Laudo não indica causa da morte do menino Joaquim

Laudo não indica causa da morte do menino Joaquim

Novos exames mais detalhados de sangue e vísceras foram pedidos.
Em conversa na web, padrasto sobre 'sofrimento pela última vez'.

 

O laudo do exame do corpo do menino Joaquim, obtido com exclusividade pelo Fantástico, diz que não é possível concluir qual foi a causa de sua morte.

Por conta disso, foram pedidas análises mais detalhadas de sangue e vísceras, que devem estar prontas entre 10 e 20 dias, e podem dar mais informações sobre a morte do garoto, que foi encontrado morto em Ribeirão Preto.

Se a morte tiver sido causada por uma alta dose de insulina, no entanto, isso pode nem aparecer nos exames, já que a substância é rapidamente processada.

As únicas lesões encontradas no corpo do menino foram na pele, em razão dos dias em que foi arrastado pelo rio. De acordo com o laudo, não foi encontrada água nos pulmões de Joaquim, o que indica que não houve afogamento.

A polícia acredita que ele foi jogado morto no córrego Tanquinho, próximo à casa da família, no bairro Jardim Independência, em Ribeirão Preto. Um cão da PM apontou pistas de que Joaquim e o padrasto fizeram o mesmo trajeto da residência até o córrego.

A reportagem do Fantástico mostra também uma conversa pela internet entre a mãe do menino Joaquim, Natália Ponte, e o padrasto dele, Guilherme Longo, que revela discussões do casal porque o técnico em TI havia voltado a usar cocaína. Nas mensagens trocadas pelos dois pelo computador, seis dias antes do desaparecimento de Joaquim, Natália reclama que o marido, quando usava o entorpecente, passava o dia dormindo e não a ajudava. Já Longo fala sobre "desistir" e fazê-la sofrer "uma última vez".

Guilherme Longo e Natália Ponte estão presos temporariamente por suspeita de envolvimento no sumiço e na morte de Joaquim Ponte Marques, de 3 anos, encontrado no Rio Pardo, em Barretos (SP). Eles alegam inocência no caso.

Um dos trechos da conversa que ocorreu no dia 30 de outubro mostra que a mãe de Joaquim estava incomodada com as recaídas de Longo. "Você enfia esse troço no nariz e no outro dia você fica igual a um defunto nessa casa. Você chega, dorme, não me ajuda em nada", diz a psicóloga, na mensagem. Já o padrasto do menino responde dizendo que não aguenta mais a situação de dependência. "Eu vou desistir, amor. De verdade. De hoje não passa. Vou te fazer sofrer uma última vez, e talvez me odiar para sempre, mas eu não vou fazer mal algum mais para ninguém", afirma Longo.

Segundo o advogado de Longo, Antônio Carlos de Oliveira, a mensagem está relacionada à tentativa de suicídio do técnico, ocorrida um dia antes do desaparecimento de Joaquim.

Em depoimento prestado na semana passada à polícia, Natália afirma que Longo tentou se matar tomando 10 comprimidos de um medicamento usado por ele para dormir. Segundo ela, ele foi levado pelo pai ao hospital, de onde só recebeu alta na tarde do dia seguinte.

Em outro momento, na mesma conversa pela internet, Natália pede para que Longo assuma para a família que voltou a usar drogas e admite que se sente insegura com a situação. "Então, se você quer mesmo parar, abre o jogo com as pessoas que te amam. Porque eu fico com medo de você aqui", diz.

Guilherme Longo diz que relação com enteado era de pai e filho (Foto: Reprodução/EPTV)Guilherme Longo diz que relação com enteado era
de pai e filho (Foto: Reprodução/EPTV)

Natália descreve perfil agressivo

Presa desde o dia 10 de novembro, Natália Ponte passou a descrever em seus depoimentos que Guilherme Longo era um homem ciumento e agressivo. Nas últimas declarações da psicóloga, feitas à Polícia Civil nesta quinta-feira (14), ela relata que Longo tinha ciúmes de todas as pessoas que se aproximavam de Joaquim e dela, chegando a pedir que ela abandonasse a clínica onde trabalhava.

Natália também afirmou à polícia que Longo contou a ela uma certa vez que já havia agredido alguns dependentes químicos na época em que trabalhou como coordenador da clínica em que ficou internado. Segundo a psicóloga, o padrasto de Joaquim também tinha narrado um episódio em que tinha espancado dois homossexuais e teria batido em sua mãe.

 

A reportagem também indica que o depoimento da mãe do menino Joaquim e do padrasto têm contradições. Uma delas é que, segundo Longo, a relação entre ele e Natália era boa e só se desgastou em setembro, quando ela descobriu que ele havia voltado a usar drogas. Já a mãe de Joaquim diz que desde o relacionamento eram ruim desde o início do ano e era ameaçada pelo marido.

O padrasto também disse que tinha uma boa relação e era "muito carinhoso" com Joaquim. Natália diz que longo tinha ciúmes dela e de Joaquim e chegou a pedir que ela deixasse a clínica em que trabalhava.

Para o delegado Paulo Henrique das Castro, as contradições indicam que Natália ou Longo estão mentindo em questões importantes. O advogado de Longo, Antônio Carlos de Oliveira, vê as contradições como "assessórias", coisas irrelevantes.

Outra contradição apontada na reportagem é em relação ao uso de insulina pelo padrasto de Joaquim. Longo diz ter usado 30 unidades do hormônio para o tratamento da criança para conter a "fissura" por causa do vício em cocaína, e que Natália havia visto, deixando-o mais tranquilo.

A mãe do menino diz que não viu esta aplicação e o endocrinologista Marcos Antonio Tambascia diz que o hormônio não traz tranquilidade, mas causa irritabilidade e nervosismo.

A polícia acredita que as doses que Longo diz ter injetado em si mesmo podem ter sido aplicadas no menino, que tinha diabetes. Uma superdosagem de insulina pode causar uma hipoglicemia, que nos casos mais graves podem levar à inconsciência e ao coma.

 

Defesa de Longo
O advogado de Longo nega as acusações sobre o ciúme e sobre o perfil agressivo do padrasto.

Em relação à conversa do casal pela internet, a qual a reportagem teve acesso, Oliveira explica que Longo, ao falar que faria Natália sofrer, estava fazendo menção ao suicídio - quatro dias após a conversa ele foi internado em um hospital após ingerir medicamentos para dormir. "Ele declara, nessa conversa que está juntada aos autos, ele diz no sentido que iria dar cabo a sua própria vida", afirma.

Segundo Oliveira, Longo não se manifestou sobre a conversa porque ainda não foi indagado sobre este episódio durante depoimento à Polícia Civil. "No último depoimento ele não explicou esses detalhes porque a autoridade também não indagou. A partir do momento que a autoridade perguntar, certamente ele irá responder todos os detalhes dessa conversa", diz.

O advogado ainda nega que o vício em cocaína possa ter trazido algum problema psicológico ao padrasto de Joaquim. "Usar drogas não causou nenhum transtorno mental a ele. O que tinha é que ele estava sofrendo, e sofrendo muito, para se libertar desse uso de entorpecente", conclui.

 

Linha de investigação
Joaquim Ponte Marques, de 3 anos, desapareceu de dentro da casa da família, na madrugada de 5 de novembro, em Ribeirão Preto (SP). O corpo foi encontrado cinco dias depois, boiando no Rio Pardo. Ele foi enterrado na segunda-feira (11) em São Joaquim da Barra (SP).

O promotor do caso, Marcus Túlio Nicolino, afirmou que a polícia e o Ministério Público continuam trabalhando com "a linha de que o assassino estava dentro da casa".

Joaquim, de 3 anos, sumiu misteriosamente de dentro da casa da mãe (Foto: Divulgação/Arquivo Pessoal)Joaquim, de 3 anos, sumiu misteriosamente de dentro da casa da mãe (Foto: Divulgação/Arquivo Pessoal)
 
 

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