SÃO PAULO — O serralheiro Itamar Santos teve o carro queimado em protesto no último sábado, em São Paulo. Desesperada, a criança que estava no veículo conseguiu ser retirada antes das chamas destruírem o Fusca. Ao GLOBO, Itamar disse que não vai procurar a Justiça para ser ressarcido. “Eu passaria tanta raiva que nem compensa”, diz ele.
O que o senhor se lembra do incidente do sábado?
Eu vinha da igreja evangélica que frequento e dei carona para um senhor e duas senhoras, amigos meus. No carro também havia uma menina de 5 anos. Nós estávamos perto da Avenida Vinte Três de Maio, quando vimos viaturas da PM, que pediram que os carros fossem em direção à Praça Rossevelt. À frente, eu vi pessoas com os rostos cobertos e vestidos de preto, colocando fogo em colchão. Os carros passaram pelo canto da pista. Quando foi a minha vez, não me deixaram passar. Eu não sei ao certo se jogaram o colchão no carro, com raiva, ou se o empurraram com o pé, mas ele foi parar na lateral do carro.
Do que o senhor mais sentiu medo?
Eu fiquei com medo dos responsáveis pelo fogo partirem para cima do carro. E acelerei.
Sofreu queimaduras?
Eu e o outro senhor tivemos um ferimento pequeno no braço, mas não muito sério. A criança ficou desesperada, chorou muito e ficou chocada. A mãe da menina ficou bem desesperada.
O Fusca era seu único carro?
É o único carro. Ele servia pra ir para a igreja, passear e carregar o meu ferro velho.
O que o senhor tem achado dos atos de vandalismo nas manifestações?
Eu acho um absurdo, um horror. O que eu tenho a ver com a Copa do Mundo? Nem a estádio eu vou. Isso foi um vandalismo, porque eles não queriam nem saber quem estava dentro do carro. Havia uma criança dentro do carro e, em um Fusca, é difícil de sair, porque é apertado. As senhoras estavam com medo de que não houvesse tempo.
O senhor foi chamado para recolher o veículo incendiado?
Sim, por volta de 1h30 da manhã, recebi uma ligação de que tinha de buscar o carro, porque, se não buscasse, teria de pagar multa. Eles queriam que eu pagasse R$ 300 só no guincho. A minha sorte é que tenho um amigo que fez um preço menor. É um descaso, não querem saber da gente.
O senhor vai pedir ressarcimento ao poder público?
Se eles derem, eu vou aceitar, mas eles não dão bola para isso. Não vou mexer com isso, é perda de tempo.
O senhor tem dinheiro para dar entrada em outro carro?
Não tenho nada, vou ter de trabalhar mais para comprar outro, porque correr atrás de governo ou do estado é perda de tempo. Eu passaria tanta raiva que nem compensa.
FONTE DE NOTICIA
https://oglobo.globo.com/pais/eles-nao-queriam-nem-saber-quem-estava-dentro-do-carro-diz-dono-de-fusca-incendiado-11418848